Com oito gols no período pós-Copa, atacante embala com o Zenit, acumula 14 jogos de invencibilidade, sendo 13 vitórias, e ainda tenta digerir 7 a 1: "Coisa vergonhosa"
Enquanto digere tudo o que viveu entre junho e julho na Copa do Mundo no Brasil, Hulk segue como líder do Zenit. Com uma diferença: o início de temporada tanto do brasileiro quanto do time de São Petersburgo impressiona pelos números. O atacante já soma oito gols em 15 jogos na temporada, e a equipe acumula invencibilidade de 14 partidas. Para não dizer que tudo está perfeito no período pós-Mundial, ele sofreu uma lesão muscular que o tirou dos primeiros amistosos da Era Dunga. Em entrevista por telefone, entre outros assuntos, destacou que a rápida recuperação foi um mérito do fisioterapeuta do clube russo, o brasileiro Eduardo Santos, e garantiu que vai esperar por uma nova oportunidade.
- Demos sorte que veio o Eduardo Santos. Todos os problemas de lesão são tratados com ele. Tem um jogador aqui do time que teve uma lesão de grau 2, e ele (Eduardo) o recuperou em duas semanas. Ele é fisioterapeuta da equipe, foi o Villas-Boas que o trouxe. É um cara muito estudado, e os russos já estão doidos com ele. Inclusive, ele fez milagre na minha lesão e me recuperou – disse Hulk, durante a entrevista por telefone.
Tudo foi muito intenso nos últimos meses para Hulk. Após a derrota por 7 a 1 para a Alemanha naquele oito de junho no Mineirão, ele iniciou a temporada com uma derrota na fase pré-Champions para o Limassol e depois não perdeu mais. Pelo contrário. Foram 13 vitórias seguidas em um intervalo inferior a dois meses até o empate sem gols com o Spartak neste sábado. Com tantos jogos, acabou sofrendo a lesão na coxa. Ele ficaria inicialmente fora de combate durante seis semanas, desfalcou a Seleção nos primeiros jogos de Dunga e, apesar de voltar antes do tempo, não foi lembrado na segunda lista do treinador, sendo alvo ainda de um recado pelas entrevistas do treinador.
- Não me senti nem decepcionado, nem frustrado. O médico mandou um documento dizendo que ficaria de quatro a seis semanas. Hoje se recupera muito rápido. Mas temos cadeiras vazias. Se alguém levanta, outro senta, e aí vai ter que esperar sentar de novo - disse o treinador, ao convocar a Seleção no último dia 19 para os amistosos contra Argentina e Japão.
A lesão em questão aconteceu na vitória sobre o Lokomotiv, em 31 de agosto. O retorno aconteceu duas semanas depois, no triunfo sobre o Dínamo Moscou, antes da previsão inicial e após os primeiros amistosos de Dunga. Além de mostrar que está empenhado em retornar à Seleção, Hulk falou sobre o atual momento do Zenit (líder do Campeonato Russo e de seu grupo na Champions com 100% de aproveitamento), do carinho que tem pelo Palmeiras, sobre racismo e projetos futuros.
Confira a entrevista na íntegra:
GloboEsporte.com: É seu melhor início de temporada desde que chegou à Rússia?
HULK: Acho que não só meu, mas do time em si, batendo recordes. O time está muito forte neste ano. Quando o coletivo está bem, o individual vai bem. O Villas-Boas pegou o clube no meio da temporada passada, e ficamos em segundo. Perdemos o título por um erro nosso mesmo. Neste ano, tivemos tempo para fazer uma pré-temporada e chegaram jogadores de qualidade.
Você fechou a participação na Copa em 12 de julho, pouco tirou férias e no dia 30 do mesmo mês já estava em campo. Acha que se sobrecarregou fisicamente nesse início tão intenso?
- Para mim, foi um pouco corrido. Tive poucos dias de descanso, fiz quatro treinos e, durante um mês (agosto), participei de 10 jogos com o time. Consegui reagir bem. No final de agosto, tive aquele problema muscular e fiquei fora da primeira convocação. Agora estou bem, me recuperei bem. Na Copa, foi diferente, não tive lesão. Foi um edema por causa dos jogos, fiquei fora do duelo contra o México e depois voltei contra Camarões. Não cheguei a ter lesão, foi um edema, mas eu poderia até ter jogado contra o México, só fiquei fora por precaução.
No início de setembro, foi diagnosticada uma lesão no bíceps femural, acompanhado de um edema muscular, que deveria tirá-lo de combate por mais de um mês, mas a recuperação levou duas semanas. Como foi esse processo?
- Foi uma lesão de grau 2 que às vezes leva de quatro a cinco semanas até normalizar. Só que fiz a fisioterapia com o Eduardo Santos e fizemos sessões diárias de nove horas durante 10 dias. No dia 13 eu já estava recuperado, antes do previsto. Passava o dia inteiro no clube durante a recuperação e só parava para almoçar.
Atribui a recuperação rápida ao tratamento?
- Quando se tem uma lesão dessa e pega um profissional bom... demos sorte que veio o Eduardo Santos. Todos os problemas de lesão são tratados com ele. Tem um jogador aqui do time que teve uma lesão de grau 2, e ele (Eduardo) o recuperou em duas semanas. Ele é fisioterapeuta da equipe, foi o Villas-Boas que o trouxe. É um cara muito estudado e os russos já estão doidos com ele. Inclusive, ele fez milagre na minha lesão e me recuperou.
Na última convocação, mesmo já recuperado, o Dunga não o convocou e deu a entender que você vai ter que esperar para recuperar a vaga. Chegou a conversar com ele?
- Não conversei diretamente com o Dunga. Eles (comissão técnica) foram informados da minha lesão. Saí (da partida contra o Lokomotiv, em que sofreu a lesão) faltando pouco menos de dez minutos com essa ruptura muscular e entrei em contato com a CBF, informando da minha lesão. Fiz a ressonância aqui na Rússia, e o resultado foi passado para o Brasil. Foi informado que eu seria cortado, e o Dunga falou para eu me recuperar bem. Graças a Deus me recuperei bem. Agora, na última convocação, teve a opção do treinador, temos que respeitar e esperar por outra oportunidade.
Imagino que a Seleção seja ainda um objetivo prioritário na sua carreira, correto? A próxima Copa será na Rússia...
- Esse desejo não vai passar jamais. Todo jogador sonha com isso (disputar uma Copa) enquanto profissional. Meu sonho é continuar trabalhando e procurando dar o meu melhor. Com certeza as coisas virão. O Dunga é o treinador e vou continuar trabalhando. O Mundial é meu objetivo.
Na última Copa, você viveu um mês bastante intenso, culminando com a derrota por 7 a 1 para a Alemanha. Já deu para digerir um pouco disso tudo?
- Digerir é um pouco difícil. Vencer a Copa era um sonho de todos os brasileiros: poder dar alegria a todos os brasileiros e aos nossos familiares. Só que não ocorreu tudo que a gente queria. Se você me perguntar o que aconteceu naquele 7 a 1, ainda não sei te responder. Perder de 7 a 1 em casa é uma coisa vergonhosa. Todos nós assumimos isso. Erramos. Futebol é assim, a vida é assim. Acontece e não podemos deixar nos abalar. Não conseguimos o objetivo de levar o título, mas é levantar a cabeça e continuar trabalhando. Enfrentamos uma grande seleção que queria ser campeã.
Como encarou as cobranças pela derrota ao longo dos últimos dois meses?
- A respeito das críticas, é normal. O futebol brasileiro é o mais cobrado do mundo. Quando ganha, parabéns. Quando perde, o mundo vai abaixo. Na vida é assim. O Felipão ganhou a Copa das Confederações um ano antes e era o melhor treinador do mundo. Depois perdemos e era o pior treinador do mundo. Só que não ganhamos e sabemos receber as críticas.
Na Rússia, até pelo excelente início, o objetivo é o título, correto? Na Champions, há alguma meta mais concreta definida?
- Aqui no Campeonato Russo, como em todos os anos, o objetivo é lutar pelo título. Sabemos que tem grandes equipes e não é um campeonato fácil, vamos buscar ser campeões. Na Champions, o objetivo é ir o mais longe possível, começando por passar da primeira fase. Depois começa a dificultar, mas devemos ir o mais longe possível. Começamos vencendo um time muito forte (o Benfica), jogando na casa deles, algo inédito, pois nunca havíamos estreado com uma vitória. Estamos motivamos, mas foi só o primeiro jogo da Champions.
Muitos dizem que você seria mais reconhecido se jogasse em outro centro com mais exposição, sobretudo no Brasil. Concorda?
- Honestamente, para quem não acompanha futebol, o Campeonato Russo não passa sempre no Brasil... O Português já não passava muito, não sei como está hoje. Joguei sempre em alto nível, ganhando campeonato, mas não tinha a mesma repercussão no Brasil que tinha na Europa. Meus companheiros dizem que na Europa sou reconhecido. Lógico que, se fosse um campeonato mais conhecido, o respeito seria diferente. Mas não me arrependo de ter feito essa trajetória. Hoje é um momento importante para mim e para minha família.
Você tem planos de voltar ao Brasil? Algum time de preferência que você sempre sonhou em jogar ou prefere não se complicar?
- Não é que vou me complicar... Por ser torcedor do Palmeiras desde criança, não quer dizer que voltaria a jogar no Brasil necessariamente pelo Palmeiras. Seria legal por usar a camisa quando criança. Mas não sei como eu faria quando voltasse. Um retorno ao Brasil seria importante para a minha família, mas não passa pela cabeça neste momento.
O Palmeiras não vive uma grande fase... Ainda acompanha o time como nos tempos de garoto?
- Depois que você fica mais velho, fica profissional, tem aquele respeito pelo clube que defende, é mais profissional. Não que eu não acompanhe o Palmeiras daqui. Quando ele ou outro time joga, eu tento assistir sempre que dá. Acompanho o Palmeiras, mas não é como antigamente.
Fala-se muito da questão do racismo na Rússia e seu início no Zenit não foi dos mais fáceis. Houve agressões desse tipo por parte da torcida?
- Muitos me perguntam e falam sobre essa questão da torcida, mas não é bem assim. Pelo contrário. Sempre fui bem recebido por aqui. A única coisa que teve meio assim foram alguns jogadores meio enciumados. A torcida sempre me recebeu bem. Eu nunca sofri nenhum tipo de racismo. O problema maior foi o idioma. A cidade é boa, tem boas escolas, boa moradia, fui bem recebido. No inverno é muito frio. Saindo da Paraíba, sofre um pouco. É frio só para treinar e jogar.
Como bom paraibano que é, não sente falta do calor?
- Eu sinto falta que é minha raiz. Como brasileiro, fui criado descalço e jogando bola descalço. Aqui é diferente, e não apenas em razão do frio. Mesmo no verão, pela cultura, não dá para andar sem camisa aqui.
Já jogou em culturas bem distintas por Rússia, Portugal, Japão e Brasil. O racismo se expõe da mesma forma em todos esses lugares?
- Como disse, eu nunca passei por uma situação assim. Só uma vez em um jogo contra o Benfica. A torcida ficou aquele fazendo aquele barulho (imitando sons de macaco), fiz um gol e calei o estádio. Quando vemos isso, ficamos tristes. Independente da cor, somos todos iguais, seja de classe média, baixa ou alta. Temos que ter respeito. Racismo não deveria existir. Independente de raça, é preciso haver respeito. Se eu falar que não vi isso acontecer aqui na Rússia com outros jogadores, estaria sendo hipócrita. Não que houvesse xingamentos escancarados, mas aqueles (voltando a repetir sons de macacos). É chato, ouvimos isso... São pessoas sem noção, com a mentalidade pequena.
Fonte: globoesporte.globo.com